29.9.06

Reencontro - Ludwig e Byron

16 de janeiro de 2202
Sede Sabá (antigo Palazzo Real da Camarilla)


Eu havia saído para a noite, queria me divertir. A pós-vida às vezes pode ser desesperadora simplesmente por ser a morada do tédio. Horrível ter de vagar por aí, sem nada realmente relevante para fazer. Às vezes, como hoje, eu saio para assustar as pessoas. Gosto de atrair meninas para fora das boates, de fazer charme, encantá-las com poemas e nunca tocá-las. Prometo que farei com que vejam os anjos quando chegarmos em casa. E nós sempre chegamos. Amo a sensação do momento em que permito que me abracem pela primeira vez. Gasto muita energia para isso, e fico fraco depois. Mas vale a pena. Vale pelo prazer de ver o horror em seus olhos quando percebe que eu desvaneço em seus braços, quando permito que vejam minha garganta cortada enquanto minha risada é tudo o resta no ar. Já enlouqueci 13 com essa brincadeira. É uma existência produtiva, essa minha. Ao menos isso devo admitir.

Mas, como dizia, eu havia saído para a noite. Voltei e fiquei sentado sobre o chafariz do jardim, recuperando o fôlego depois da materialização. Foi quando eu me vi entrando. Que susto não levei com aquilo! Oras, olhem! Sou eu ali! Caminhando calmamente! Fiquei feliz ao perceber que ainda era um tipo charmoso. Mas que importa isso? Eu estou morto! Aprendam, crianças: não há sexo após morte. E as mulheres ficam ainda mais difíceis e complicadas.

Voei ao redor de mim mesmo, enquanto eu caminhava. Examinei os detalhes e... puta-que-o-pariu! Sou eu mesmo! Até os anéis nos dedos fazem o meu tipo! Que coisa mais macabra essa! Dei adeus à minha imagem e corri para a sala do trono. Ludwig ficaria feliz em saber que eu havia voltado e era mortal outra vez...

bcda

Sentado no trono de veludo e marfim, a expressão de Ludwig intimidaria exércitos. Há tempos trocara o preto pelo vermelho real e isso parecia deixar a sua presença ainda mais palpável. Mas nem tudo são flores. O reinado não mudara sua personalidade rebelde e delinqüente e, depois dos ocorridos há dois anos, às vezes ele comete atos que assustam até mesmo a mim. Fora de um extremo a outro, mudara do extremamente carismático para o extremamente cruel.

Ouvi os passos do visitante se aproximando. Ou eu deveria dizer: “ouvi meus próprios passos se aproximando”?! Ludwig, um pé sobre o trono e uma mão a apoiar o rosto, deixava que os longos cabelos negros lhe cobrissem praticamente todo o rosto. Seus olhos eram poços escuros e brilhavam como os de um demônio. Teremos diversão essa noite, pensei.

Eu flutuava atrás do Príncipe quando vi meu reflexo por detrás dos vitrais coloridos e, logo em seguida, eu entrava na sala do trono, com um ar comum e displicente, como que dizendo “estou de volta, mama!”
As sombras surgiram de por detrás do trono e eram tão ameaçadoras quanto as que eu vi na noite em que morri. O meu outro eu parou com uma expressão despreocupada, observando as trevas crescerem e as criaturas que só aumentavam, tipo “que lindo isso, Ludwig. Não precisava tanto para me recepcionar”. Certamente, aquele ali era eu. Eu teria dito isso. Ludwig não mexera um músculo, mas suas criaturas bizarras e selvagens estavam soltas e voavam por todo o salão. E eu estava excitado.